segunda-feira, 23 de julho de 2018

Ribeira à noite



À luz do dia a bela paisagem se revela inteira e do cais se avista lá ao fundo a Foz do Douro e bem ao lado a sinuosa curva que antecede a Ponte Luiz I. À noite a vista deslumbrante se reveste de luzes desde Gaia, na margem oposta, até o casario do Porto, do lado de cá. O mosteiro da Serra do Pilar domina o espaço e se deixa refletir nas águas lentas, volumosas, a inspirar tranquilidade. A Ribeira é a sala de visitas, de misteriosa beleza esculpida pelos séculos que esta cidade viveu e atravessou. Foi chamada Invicta por resistir a todos os assédios e mesmo sitiada fez valer a sua força e a sua fé nas ideias de liberdade.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Esquina do Mundo



Nas esquinas as pessoas se encontram, vindas de outros lugares. Algumas cidades do mundo têm esta vocação das esquinas, onde se dá o encontro de povos diferentes, vindas de países distantes. Vão pelo prazer de ver e conhecer outros lugares e outros povos.

Paris e Londres, Roma e Nova Iorque são esquinas do mundo mas é também surpreendente andar pelo Porto, percorrer as margens do Douro e ver como a cidade se transforma ela própria num novo ponto de encontro das gentes. Línguas de povos distantes, pessoas de pele, olhos e cabelos diferentes atestam nas ruas do Porto a diversidade e a beleza dos tipos humanos que habitam este velho e maltratado mundo.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O vinho com o nome da cidade


Um escanção, que é como se chama um sommelier em bom português, me disse que a qualidade dos vinhos do mundo obedece ao formato de uma pirâmide. No seu vértice encontra-se o vinho do Porto. E depois vêm os outros tipos que se estendem até a base, a descer em termos de qualidade. E também de quantidade.

Fortificado com aguardente de vinho, o porto acompanhou os destemidos marujos que empreenderam os Descobrimentos, a navegar por mares nunca dantes navegados.

Os ingleses, por sua vez, o descobriram e o distribuíram pelo mundo. O século XVII marcou o início do grande lucro da Inglaterra com a venda de um produto precioso para o resto do mundo. E os nobres ingleses sofreram as dores da gota pelo excesso de consumo do Porto.

Presente do Douro ao resto do mundo, o vinho do Porto transformou o néctar da uva num paladar supremo, inconfundível, único, me disse aquele escanção. Concordo.


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A ponte


Junto com a Torre dos Clérigos, é um dos dois fortes símbolos do Porto. Os portuenses preferem chamar os dois monumentos de ex-libris da sua cidade. Marca o quase fim do século XIX e homenageia um rei amado pelo povo cuja mulher dizia que ele era um pouco doido porque, sem preconceitos, amava todas as mulheres.

Dom Luiz não esteve presente na inauguração da Ponte e, diz uma lenda urbana, em represália o povo lhe cassou o título de ‘Dom’. Por isso o monumento chama-se simplesmente Luiz I. Cassaram-lhe o tratamento respeitoso.


Atravessei-a muitas vezes em viagens na direção de Lisboa, antes de me apaixonar pelo Porto e nele atracar os meus dias. De lá de cima vê-se o Douro, as adegas de vinho em Vila Nova de Gaia e a as margens da Ribeira, a formar uma paisagem que permanece para sempre na memória de quem atravessa esta ponte bordada de ferro que domina os horizonte de um rio.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Os meninos da Ribeira


Eles são nadadores exímios e mergulhadores melhores. Cresceram às margens do Douro e defendem alguns trocados dos turistas exibindo suas habilidades. O verão é o seu tempo e as águas sempre frias do rio não os afastam do que sabem fazer, os visitantes da cidade adoram assistir ao seu já tradicional espetáculo. A ponte Luiz I é o trampolim dos saltos e a plateia se perfila nas duas margens do rio para aplaudir os mergulhos.


Alguns turistas entusiasmam-se com o ‘show’ e às vezes pretendem se arriscar a imitá-los. Mas não gozam de intimidade com o Douro. Há pouco um jovem norte-americano pulou da ponte, como fazem os meninos da Ribeira e desapareceu na corrente. Seu corpo apareceu dois dias depois, alguns quilômetros abaixo, no Cais das Pedras, em direção ao mar.