quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O vinho com o nome da cidade


Um escanção, que é como se chama um sommelier em bom português, me disse que a qualidade dos vinhos do mundo obedece ao formato de uma pirâmide. No seu vértice encontra-se o vinho do Porto. E depois vêm os outros tipos que se estendem até a base, a descer em termos de qualidade. E também de quantidade.

Fortificado com aguardente de vinho, o porto acompanhou os destemidos marujos que empreenderam os Descobrimentos, a navegar por mares nunca dantes navegados.

Os ingleses, por sua vez, o descobriram e o distribuíram pelo mundo. O século XVII marcou o início do grande lucro da Inglaterra com a venda de um produto precioso para o resto do mundo. E os nobres ingleses sofreram as dores da gota pelo excesso de consumo do Porto.

Presente do Douro ao resto do mundo, o vinho do Porto transformou o néctar da uva num paladar supremo, inconfundível, único, me disse aquele escanção. Concordo.


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A ponte


Junto com a Torre dos Clérigos, é um dos dois fortes símbolos do Porto. Os portuenses preferem chamar os dois monumentos de ex-libris da sua cidade. Marca o quase fim do século XIX e homenageia um rei amado pelo povo cuja mulher dizia que ele era um pouco doido porque, sem preconceitos, amava todas as mulheres.

Dom Luiz não esteve presente na inauguração da Ponte e, diz uma lenda urbana, em represália o povo lhe cassou o título de ‘Dom’. Por isso o monumento chama-se simplesmente Luiz I. Cassaram-lhe o tratamento respeitoso.


Atravessei-a muitas vezes em viagens na direção de Lisboa, antes de me apaixonar pelo Porto e nele atracar os meus dias. De lá de cima vê-se o Douro, as adegas de vinho em Vila Nova de Gaia e a as margens da Ribeira, a formar uma paisagem que permanece para sempre na memória de quem atravessa esta ponte bordada de ferro que domina os horizonte de um rio.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Os meninos da Ribeira


Eles são nadadores exímios e mergulhadores melhores. Cresceram às margens do Douro e defendem alguns trocados dos turistas exibindo suas habilidades. O verão é o seu tempo e as águas sempre frias do rio não os afastam do que sabem fazer, os visitantes da cidade adoram assistir ao seu já tradicional espetáculo. A ponte Luiz I é o trampolim dos saltos e a plateia se perfila nas duas margens do rio para aplaudir os mergulhos.


Alguns turistas entusiasmam-se com o ‘show’ e às vezes pretendem se arriscar a imitá-los. Mas não gozam de intimidade com o Douro. Há pouco um jovem norte-americano pulou da ponte, como fazem os meninos da Ribeira e desapareceu na corrente. Seu corpo apareceu dois dias depois, alguns quilômetros abaixo, no Cais das Pedras, em direção ao mar.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Amar o Porto


Não foi amor à primeira vista. Pelo menos uma dezena de vezes, vindo da França, atravessei a ponte Luiz I sem parar na cidade. Lisboa me atraia. Diziam-me que o Porto era uma cidade onde apenas se trabalhava, em Lisboa estaria a contemplação da vida. Achava interessante observar lá embaixo as adegas de Vila Nova de Gaia e o Douro que corria com suas águas em direção ao mar. Mais nada.


Até que um dia resolvi passar algum tempo na cidade. Uma semana que acabou por transformar-se em todos os dias das férias. Sem que sentisse, o Porto exerceu todo o poder do seu fascínio e assim me transformei num amante incondicional. É uma cidade que não se revela à primeira visita. É preciso descobri-la aos poucos num andar em que o mistério mistura-se à fantasia e à sua história tão rica, ao encanto do seu povo e ao deslumbramento da sua paisagem. O Porto é um suave e belo golpe no coração dos seus amantes.

domingo, 20 de agosto de 2017

Jardins



Comecei a contar os jardins do Porto: Serralves, Parque da Cidade, Palácio de Cristal, Jardim das Virtudes, Jardim Botânico, Parque de São Roque, Quinta do Covelo, Jardim de São Lázaro (o mais antigo). Desisti porque são inúmeros. Sem contar os jardins secretos e as praças públicas.

Na contramão das selvas de asfalto que existem ao redor do mundo e sufocam as cidades, o Porto fez opção contrária. Assim como o Portugal de hoje desafia as políticas de austeridade impostas pela União Europeia e vai muito bem, assim o Porto desafiou as imposições da arquitetura das megalópoles. E fez de si mesma uma cidade humana, coberta de flores e espaços verdejantes que a fazem linda, contemporânea, um belo lugar para se viver.